E “enquanto eu inventar Deus, Ele não existe”.
Cheguei da faculdade, cansada como sempre, tomei um banho, coloquei uma camiseta e fui estudar um pouco mais. Os livros e papéis na minha frente falavam de literatura, linguagem, língua e texto, e de alguma forma eu comecei a pensar em você no meio daquilo tudo. Clarice disse que não amava verdadeiramente porque achava que carinho era amar; Drummond, que as plantas perderam sua maneira de conversar umas com as outras, perderam a sua linguagem por quererem passar desapercebidas. Fish disse que vemos o que queremos ver e que o poema que lemos não existe por si só na significação, mas que tudo depende da forma como interpretamos. Barthes foi além, e disse que para a escrita nascer é necessário que o autor morra. E eu me coloquei a pensar no que sou diante de você. Sou como uma filha mimada que não sabe o seu lugar? Sou uma planta que não sabe mais falar com o seu jardineiro? Sou como o autor que, por medo de matar a si mesmo, nunca deixa a escrita nascer dele? Sou criação da minha própria interpretação? O que sou? Tenho medo de ser aquilo que sempre julguei, de ser hipócrita, de ser apenas uma invenção. Tenho medo de não ser o resultado que você esperava e ter interpretado as coisas que você me disse da maneira errada. Tenho medo de me perder de você, não saber te ouvir mais ou tentar tanto que não me perceba que fique indiferente à minha presença. Porque eu sei que não quero ser uma filha mimada. Eu sei que não quero ser possuidora da verdade , não quero ser uma autora-Deus. Não quero ser uma escrita inexistente, não. Quero que a escrita nasça da minha morte, que o Jardim floresça da nossa comunicação; quero que você seja o autor-Deus da minha história. Talvez no fim eu me descubra. Talvez no fim eu me encontre na sua obra, ache o meu papel, perceba o meu lugar nisso tudo, exatamente como a garota que “perdoou Deus”. Talvez no fim eu ame toda essa somatória de coisas que não entendo. Talvez no fim eu não ame nada porque não sei o amor. Talvez no fim você não exista porque eu insisto em te inventar.B.
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