Carta aberta aos ateus

terça-feira, junho 23, 2015 Maravilhosa Graça 1 Comments


Olá querido ateu, olá querida ateia,

Hoje senti necessidade de falar com você. Porque, veja bem, eu ouvi um de vocês hoje.

Eu sou cristã. Cristã evangélica. Você já pode concluir que sou muitas coisas. Talvez você me rotule de homofóbica, machista, sexualmente reprimida, ingênua, burra, ladra, falsa, arrogante, e sei lá mais o que você pode ter contra mim.

E, sabe, eu entendo. Eu entendo o porquê você pensa isso tudo. Porque isso é o que grande parte dos evangélicos tem mostrado ser. Preconceituosos, cheios de si, como se fossem os donos da verdade. Eu entendo que você pense isso de mim. Na verdade, você não é o primeiro. Pessoas da minha própria família, assim que souberam da minha conversão, falaram que “ninguém precisa de mais um crente insuportável nessa família”.

E hoje escutei que era um absurdo eu me manter virgem até o casamento. Eu ouvi ridicularizações, ouvi que eu era uma pobre oprimida, que havia sofrido uma lavagem cerebral. E fiquei calada.

Escrevo hoje para vocês só para dizer que não sou nenhum dos rótulos que vocês me dão. Cristãos evangélicos me criticam por defender um Estado laico, por dar razão para a legalização do casamento homossexual, por não assumir uma postura “fundamentalista”, na linguagem que vocês amam utilizar. E, sabe, eu escuto acusações dos dois lados. Dos religiosos e dos descrentes. E eu sei que vocês sabem o quanto machuca ouvir qualquer tipo de acusação.

Escrevo hoje para vocês só para dizer que o corpo é meu, assim como as decisões que tomo sobre ele. Se eu fosse um de vocês, dizendo que quero ter minha primeira relação com alguém que amo, vocês diriam que é direito meu. Vocês me dariam um cartaz para segurar, com os dizeres ‘meu corpo, minhas regras’. Mas, veja bem, eu ainda sou aquela mulher, mas cristã. Uma mulher que tem opiniões, tem convicções, tem crenças e escolhas. E eu escolhi isso. Dentro de um contexto cultural específico, obviamente, mas qual escolha é livre de contextos culturais? 

Escrevo hoje só para dizer que eu acredito em coisas que vocês não acreditam. E isso faz com que nós vejamos tudo, absolutamente tudo, de uma maneira diferente. E eu respeito isso em você. Pode ter certeza que há uma geração de jovens cristãos evangélicos que lutam, dentro da igreja, silenciosamente, em minoria, para que vocês sejam respeitados. Para que vocês façam suas escolhas sem nenhum julgamento da parte de ninguém. Desde beber, até casar com alguém do mesmo sexo. Porque essa minoria entende que vocês precisam de liberdade para viverem as suas escolhas. Assim como nós, os cristãos, precisamos. E nos ridicularizar, emitir julgamentos e apontar o dedo para cada um de nós não nos ajuda a lutar por vocês. Na verdade, nos faz querer desistir.

Escrevo hoje para pedir desculpas por tudo o que vocês sofrem por nossa causa. Perdoe os rótulos, as ameaças do fogo do inferno, o tratamento diferenciado. Não pense que eu compactuo com a ausência de Deus na vida de cada um de vocês e que não lamento pelas consequências que eu acredito que virão. Como eu já disse incontáveis vezes, sou cristã, e não nego a Bíblia. Mas eu compreendo que vocês não acreditam. Eu já tive um período de descrença e sei o quanto é difícil acreditar no invisível. E eu sei que vocês odeiam qualquer tentativa de evangelização, por isso sequer tentarei. A escolha é sua. Mas ela também é minha.


E se eu escolhi não fumar, não beber, não transar, não fazer qualquer coisa por razões de fé, não me julgue. Não me ridicularize. Ouso pedir que vocês façam o que Jesus pediu para que nós façamos: que ame a mim como eu amo a vocês. Que faça com os outros aquilo que você gostaria que fizessem com você mesmo.

E, assim, viveremos o Paraíso na terra. Ou o nirvana. Ou apenas um tempo de paz. Como preferir.

De uma cristã que deseja um cessar-fogo.
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1 respostas:

Anônimo disse...

Sensacional. Não sou ateu, mas se fosse, me renderia diante dessas palavras. Quem dera todos os cristãos tivessem tal sensibilidade.