Vida (nem tão) secreta

Ontem foi aniversário da Carol, uma amiga minha. Ela fez um almoço na casa dela, chamou algumas amigas e foi tudo ótimo. Quando eu estava indo embora, a Marina, uma dessas outras amigas, veio junto comigo. Estávamos voltando para a faculdade, quando ela se despediu de mim e disse que ficaria naquela rua. Quando perguntei se ela não iria voltar para a faculdade junto comigo, ela respondeu que precisava ir visitar a avó dela no hospital, que está internada há dois dias.

Ela não fez alarde sobre isso. Ela não esmiuçou o seu problema com todos os que estavam presentes no almoço. Como uma verdadeira cristã, ela escolhe compartilhar seu problema com Deus e com alguns poucos conhecidos.

Eu estou falando desse exemplo real para refletirmos, juntos, sobre como nós lidamos com os nossos problemas. Você pode ser o contrário da Marina. Mal o problema aparece e você já chama alguém no WhatsApp para contar. Quando chega para conversar com alguém, já vai despejando o problema, suas preocupações sobre ele e tudo o que a outra pessoa sequer perguntou. Talvez você faça publicidade das suas lutas e todos, sem qualquer escolha, são obrigados a escutar você tagarelar sobre assuntos que ninguém além de você deveria saber.

E o maior problema nisso tudo é que na maioria das vezes Deus sequer foi comunicado sobre o seu problema. Ao invés de ficar sabendo diretamente da sua boca, Ele fica “ouvindo” você contar para terceiros. Nessa mania eterna de analisarmos e esmiuçarmos nossos problemas e dificuldades, pouquíssimas vezes olhamos para o outro. As necessidades alheias passam despercebidas porque estamos muito preocupadas com o que está acontecendo conosco. Ao invés de servir o outro, cultuamos nosso ego e nossa vida. Colocamos todo o resto em um plano secundário, e super valorizamos as nossas questões.

Na era da informação, em que a comunicação é instantânea, é muito fácil apagar a linha que separa a nossa privacidade da nossa vida pública. Se antigamente os problemas eram compartilhados apenas com as pessoas mais próximas, que têm maiores condições de nos auxiliar com conselhos, hoje eu posso colocar no Facebook “chateada com o mundo inteiro” e centenas de amigos virtuais ficarão cientes do meu humor e do meu problema.

A Bíblia nos diz para orar em segredo, para procurar o Pai em um ambiente calmo e isolado, para que possamos falar com Ele e ouvir o que Ele tem a dizer. Dessa forma, em segredo e em silêncio, podemos ser ministradas por Deus. Enquanto estivermos espalhando nossos problemas, enquanto nós estivermos falando mais alto do que os outros para nos fazer ser ouvidas, Deus permanecerá em silêncio. Nossos problemas aumentarão e tomarão as rédeas das nossas vidas, porque ao invés de procurar Aquele que pode resolver o conflito, nós meramente espalhamos a notícia.

Desafie-se a ser mais reservado. Isso não significa fazer mistério ou guardar segredos, mas estabelecer uma linha entre público e privado. Faça coisas boas que apenas você e Deus saberão. Tire fotos que apenas você verá. Conte seus problemas primeiramente para Deus, em oração, e posteriormente para poucos chegados. Aprenda a ter uma vida secreta de oração, e desista dessa vida pública de constante exposição.

Jesus mantinha o significado das parábolas em segredo e apenas revelava o necessário, esperando que o momento certo chegasse. Deus escondeu Seu segredo mais precioso (o Seu Filho Primogênito!!) por 30 anos, até que Jesus começasse seu ministério. Se até Deus nos dá o exemplo da paciência e da discrição, não seria coerente seguir os Seus passos?

Sejamos menos precipitados, mais profundos e menos desesperados por atenção. Que nossos problemas sejam deixados nas mãos do Senhor e que nosso tempo com as outras pessoas seja gasto com crescimento espiritual – e não com fofocas e pessimismo.

Graça e paz!

Obs: Obviamente que devemos compartilhar nossos problemas, pois somos humanos e precisamos desabafar e contar uns com os outros. Mas seja sábio e selecione aqueles que ouvirão suas palavras. Contar pra todo mundo que você conhece não vai adiantar nada! E, se você tiver tempo, assista a esse sermão do Pastor Lucinho Barreto.