A escuridão que não adentramos

quarta-feira, agosto 20, 2014 Maravilhosa Graça 0 Comments


Imagine uma âncora. Agora o marinheiro a pega e a joga no mar, a fim de fixar o barco. A âncora vai descendo, o mar ainda é azul claro, a água ainda é quente, a luz do sol ainda chega. Mas, na medida em que vai descendo, a água começa a esfriar e, lá em cima, pouco se vê da luz do sol. A âncora desce mais, a gravidade a atrai para baixo, cada vez mais fundo. Então, lá em cima não se vê mais nada e, para baixo, nunca se sabe quando o chão irá chegar. Descendo mais um pouco ainda, tudo é muito gelado, não tem sol, nada se vê. Tudo é uma tremenda escuridão, não se sabe onde está o chão. A única certeza que se tem é de que, lá embaixo, o chão está e junto dele, a segurança em meio ao breu.

Agora pense na vida cristã. Nós somos como a âncora. A diferença que temos com uma âncora de verdade é que temos a escolha se queremos afundar ou não.

Quando começamos a nossa caminhada cristã, nós ainda estamos na parte rasa da água. Ainda é possível ver o mundo lá fora, ainda conseguimos ver a luz que vem de fora. Mas, quando vamos afundando mais em Deus, nós começamos a enxergar pouco ao redor. Nessa hora, é quando nós, cristãos, temos uma decisão a tomar: ou voltamos para o mundo, onde tudo é claro e a água é mais quente, ou adentramos a escuridão gelada de uma vida sem certezas, mas com a promessa de um chão seguro à nossa espera, ainda que não possamos vê-lo.

O problema dessa fase é que muitas vezes nós decidimos voltar, ou ficamos parados no mesmo lugar. Quando voltamos, nos deparamos com um mundo quente, mas aonde sempre alguém vai te deixar encostado até que precise de você – assim como o marinheiro só precisa da âncora quando quer atracar o barco. Se ficarmos parados, não estamos em nenhum dos dois locais – não rejeitamos a escuridão, nem voltamos à superfície. Logo, enganamos a nós mesmo pensando que ali onde estamos já estamos parados, e pronto.

Temos essa esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-se sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Hebreus 6:19

Quando, em nossa caminhada cristã, nós decidimos voltar, é como se estivéssemos saindo do santuário, como se não quiséssemos ver o que tem por trás do véu. Já quando ficamos parados, ainda estamos no santuário, mas nunca descobriremos o que há ali por trás, porque ficamos somente parados, somente com medo, somente olhando – nunca descobrindo.

Mas a partir do momento que decidimos afundar na escuridão, quando decidimos descobrir o que há por trás do véu, as coisas mudam. Tudo é uma surpresa, não sabemos o que acontecerá a seguir, não conseguimos ver nada em volta. O mar é frio, sim; gelado, sim. Mas ainda temos aquela esperança de encontrar um chão seguro, e é essa esperança que nos ajuda a nos movermos e adentrarmos.

É a esperança e, mais que isso, a promessa, de encontrar Jesus em meio ao nada, é que nos faz seguir em frente. Essa escuridão, que muitas vezes nós não adentramos, mas ficamos somente olhando, guarda um futuro melhor. Essa escuridão ancora as nossas vidas com descanso, com paz, com segurança, com amor. A escuridão não significa algo ruim, mas sim que, quando chegar lá no fundo, você encontrará alguém que chegou ao fundo antes de você, e que irá te fazer companhia e te livrar do medo: Jesus.


Afunde no oceano da fé, adentre a escuridão de Deus. 
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