A escuridão que não adentramos
Imagine uma âncora. Agora o marinheiro a pega
e a joga no mar, a fim de fixar o barco. A âncora vai descendo, o mar ainda é
azul claro, a água ainda é quente, a luz do sol ainda chega. Mas, na medida em
que vai descendo, a água começa a esfriar e, lá em cima, pouco se vê da
luz do sol. A âncora desce mais, a gravidade a atrai para baixo, cada vez mais
fundo. Então, lá em cima não se vê mais nada e, para baixo, nunca se sabe
quando o chão irá chegar. Descendo mais um pouco ainda, tudo é muito gelado,
não tem sol, nada se vê. Tudo é uma tremenda escuridão, não se sabe onde está o
chão. A única certeza que se tem é de que, lá embaixo, o chão está e junto
dele, a segurança em meio ao breu.
Agora
pense na vida cristã. Nós somos como a âncora. A diferença que temos com uma
âncora de verdade é que temos a escolha
se queremos afundar ou não.
Quando
começamos a nossa caminhada cristã, nós ainda estamos na parte rasa da água.
Ainda é possível ver o mundo lá fora, ainda conseguimos ver a luz que vem de
fora. Mas, quando vamos afundando mais em Deus, nós começamos a enxergar pouco
ao redor. Nessa hora, é quando nós, cristãos, temos uma decisão a tomar: ou
voltamos para o mundo, onde tudo é claro e a água é mais quente, ou adentramos
a escuridão gelada de uma vida sem certezas, mas com a promessa de um chão
seguro à nossa espera, ainda que não possamos vê-lo.
O
problema dessa fase é que muitas vezes nós decidimos voltar, ou ficamos parados
no mesmo lugar. Quando voltamos, nos deparamos com um mundo quente, mas aonde
sempre alguém vai te deixar encostado até que precise de você – assim como o
marinheiro só precisa da âncora quando quer atracar o barco. Se ficarmos
parados, não estamos em nenhum dos dois locais – não rejeitamos a escuridão,
nem voltamos à superfície. Logo, enganamos a nós mesmo pensando que ali onde
estamos já estamos parados, e pronto.
Temos essa esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-se sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Hebreus 6:19
Quando,
em nossa caminhada cristã, nós decidimos voltar, é como se estivéssemos saindo
do santuário, como se não quiséssemos ver o que tem por trás do véu. Já quando
ficamos parados, ainda estamos no santuário, mas nunca descobriremos o que há
ali por trás, porque ficamos somente parados, somente com medo, somente olhando
– nunca descobrindo.
Mas a
partir do momento que decidimos afundar na escuridão, quando decidimos
descobrir o que há por trás do véu, as coisas mudam. Tudo é uma surpresa, não
sabemos o que acontecerá a seguir, não conseguimos ver nada em volta. O mar é
frio, sim; gelado, sim. Mas ainda temos aquela esperança de encontrar um chão
seguro, e é essa esperança que nos ajuda a nos movermos e adentrarmos.
É a
esperança e, mais que isso, a promessa, de encontrar Jesus em meio ao nada, é
que nos faz seguir em frente. Essa escuridão, que muitas vezes nós não
adentramos, mas ficamos somente olhando, guarda um futuro melhor. Essa
escuridão ancora as nossas vidas com descanso, com paz, com segurança, com
amor. A escuridão não significa algo ruim, mas sim que, quando chegar lá no
fundo, você encontrará alguém que chegou ao fundo antes de você, e que irá te
fazer companhia e te livrar do medo: Jesus.
Afunde
no oceano da fé, adentre a escuridão de Deus.
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